sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Alguns textos do Caio que eu encontrei hoje e dizem muito sobre esses dias! (:


"Tenho trabalhado tanto, mas sempre penso em vc. Mais de tardezinha que de manhã, mais naqueles dias que parecem poeira assenta e com mais força quando a noite avança. Não são pensamentos escuros, embora noturnos…
Sabe, eu me perguntava até que ponto você era aquilo que eu via em você ou apenas aquilo que eu queria ver em você. Eu queria saber até que ponto você não era apenas uma projeção daquilo que eu sentia, e se era assim, até quando eu conseguiria ver em você todas essas coisas que me fascinavam e que no fundo, sempre no fundo, talvez nem fossem suas, mas minhas, e pensava que amar era só conseguir ver, e desamar era não mais conseguir ver, entende?
Eu quis tanto ser a tua paz, quis tanto que você fosse o meu encontro. Quis tanto dar, tanto receber. Quis precisar, sem exigências. E sem solicitações, aceitar o que me era dado. Sem ir além, compreende? Não queria pedir mais do que você tinha, assim como eu não daria mais do que dispunha, por limitação humana. Mas o que tinha, era seu.
Mas se você tivesse ficado, teria sido diferente?
Melhor interromper o processo em meio: quando se conhece o fim, quando se sabe que doerá muito mais — por que ir em frente?
Não há sentido: melhor escapar deixando uma lembrança qualquer, lenço esquecido numa gaveta, camisa jogada na cadeira, uma fotografia — qualquer coisa que depois de muito tempo a gente possa olhar e sorrir, mesmo sem saber por quê. Melhor do que não sobrar nada, e que esse nada seja áspero como um tempo perdido.
Tinha terminado, então. Porque a gente, alguma coisa dentro da gente, sempre sabe exatamente quando termina.
Mas de tudo isso, me ficaram coisas tão boas. Uma lembrança boa de você, uma vontade de cuidar melhor de mim, de ser melhor para mim e para os outros. De não morrer, de não sufocar, de continuar sentindo encantamento por alguma outra pessoa que o futuro trará, porque sempre traz, e então não repetir nenhum comportamento. Ser novo.
Mesmo que a gente se perca, não importa. Que tenha se transformado em passado antes de virar futuro. Mas que seja bom o que vier, para você, para mim. Te escrevo, enfim, me ocorre agora, porque nem você nem eu somos descartáveis.
. . . E eu acho que é por isso que te escrevo, para cuidar de ti, para cuidar de mim – para não querer, violentamente não querer de maneira alguma ficar na sua memória, seu coração, sua cabeça, como uma sombra escura."
 
 
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Não há nenhum subtexto nisto que te escrevo. Não acho bonito que a gente se disperse assim, só isso. Encontre, desencontre e nada mais, nunca mais, é urbano demais - e eu nasci praticamente no campo, até os 15 anos quase no campo, céu e campo. Não sei se a gente pode continuar amigo. Não sei se em algum momento cheguei a ver você completamente como Outra pessoa, ou, o tempo todo, como Uma Possibilidade de Resolver Minha Carência. Estou tentando ser honesto e limpo. Uma possibilidade que eu precisava devorar ou destruir. Porque até hoje não consegui conquistar essa disciplina, essa macrobiótica dos sentimentos, essa frugalidade das emoções. Fico tomado de paixão.
 
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'Num deserto de almas também desertas, 
uma alma especial reconhece de imediato a outra — talvez por isso, quem sabe? 
Mas nenhum se perguntou.
Não chegaram a usar palavras como "especial", "diferente" ou qualquer coisa assim.
Apesar de, sem efusões, terem se reconhecido no primeiro segundo do primeiro minuto. 
Acontece porém que não tinham preparo algum para dar nome às emoções, 
nem mesmo para tentar entendê-las.'
 
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Chega em mim sem medo, toca meu ombro, olha nos meus olhos, como nas canções do rádio. Depois me diz: “-Vamos embora para um lugar limpo. Deixe tudo como esta. Feche as portas, não pague as contas e nem conte a ninguém. Nada mais importa. Agora você me tem, agora eu tenho você. Nada mais importa. O resto? Ah, os restos são restos. E não importam. Mas seus livros, seus discos, quero perguntar, seus versos de rima rica? Mas meus livros, meus discos, meus versos de rima pobre? Não importa, não importa. Largo tudo. Venha comigo pra qualquer outro lugar. Triunfo, Tenerife, Paramaribo, Yokohama. Agora já. Peço e peço e não digo nada, mas peço peço diga, diga já, diga agora, diga assim. Você planeja partir para um país distante, sem mim, de onde muitos anos depois receberei a carta de um desconhecido com nome impronunciável anunciando a sua morte. Foi em Abril, dirá abril e maio. Ou Setembro, Outubro. Os mais cruéis dos meses. Tanto faz, já não importará depois de tanto tempo, numa cidade remota.
(…) e vou dizendo lento, como quem tem medo de quebrar a rija perfeição das coisas, e vou dizendo leve, então, no teu ouvido duro, na tua alma fria, e vou dizendo leve, e vou dizendo longo sem pausa 
– gosto muito de você de você muito de você.

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

 Eu to meio perdida sabe, :~ como assim, manda aquele recado e pronto, some, facil assim :x me exclui, a verdade é que nossa história é toda assim. Meio torta. Mas, se eu decidi te esquecer, não é porque eu não te amo, :O e sim porque você ta longe, eu  fui tão clara contigo, quando disse que se tu quisesse a gente continuava junto mesmo contigo ai e eu aqui, já disse que faria tudo, tu sabe que é o amor da minha vida, e
 sabe disso desde a primeira vez que eu te vi, como assim do nada você leu meu blog, é o que eu acho e me excluiu? Cara, que, que deu? To aqui totalmente sem entender, eu me diz COMO eu vou falar contigo agora? ;/ porque eu não sei :x por isso que a minha mesa, ta aqui com um moooonte de coisa pra mim fazer e eu to escrevendo no blog, pra ver se um dia tu ler isso aqui de novo, pelo menos sei lá, me re-adicione :x Que louco isso! Parece que a gente ta parado no mesmo momento, no ano passado, brigando que bem dois bobinhos, sem olhar um na cara do outro. Só que... eu não vou mais te ver amanha a tarde, e um de nós vamos puxar assunto, que coisa menino, parece que não sabe que eu faria tudo por ti, MEEEU DEEEEUS! Nem vou me irritar com isso e de verdade, se tu ler isso, me adiciona de novo, porque eu não consigo :T
e conversa comigo, e me diz o que eu aconteceu, porque eu to super perdida, sério! Me explica, eu preciso saber o que se passa nessa cabecinha linda que eu amo tanto! (:




Só um minuto por favor

Eu te provo que a distância

Não impede nosso amor

Ahhh , acredita mais em mim

Te visito todo ano

Se voce disser que sim.




"Ele gostava quando ela dizia sabe, nunca tive um papo com outro cara assim que nem tenho com você. Ela gostava quando ele dizia gozado, você parece uma pessoa que eu conheço há muito tempo. E de quando ele falava calma, você tá tensa, vem cá, e a abraçava e a fazia deitar a cabeça no ombro dele para olhar longe, no horizonte do mar, até que tudo passasse, e tudo passava assim desse jeito. Ele gostava tanto quando ela passava as mãos nos cabelos da nuca dele, aqueles meio crespos, e dizia bobo, você não passa de um menino bobo"

Caio F. De Abreu


"Eles nao se entendiam,
raramente concordavam em algo,
brigavam sempre e se desafiavam todos os dias.
Mas apesar das diferenças tinham algo em comum: eram loucos um pelo outro."

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Desabafo



Fazia tempo que eu não escrevia mais, minha vida ta bem acelerada, saio de casa as 6:00 e chego só as 23:00 então é de se imaginar que é dificil pra mim sentar e escrever algo para o blog, eu tava namorando também, então final de semana ficava bem mais dificil, e sei lá, eu não tava com criatividade é como um sabio disse, fico emocionalmente mais burra quando estou em um relacionamento. Bem, eu mudei... Não por fora, apesar de meu cabelo estar maior, minhas calças um pouco frouxas e meus peitos maiores. Mudei mentalmente, hoje eu carrego uma frase, que eu vou levar para a vida toda, NÃO SE ACUSTUME COM O QUE NÃO TE FAZ FELIZ! eu fico meio triste em ver tanto tempo jogado fora, e de ver uma pessoa que eu tinha um carinho enorme, morrendo dentro de mim, de ver que cada cantinho da minha casa tem algo que  lembra nós, quando nós eramos nós. Não tenho duvidas, sei que não o amei, e sim gostei, GOSTEI muito, não estou triste por ele ter ficado com outras, nem pela forma e nem pela situação e clima chatos que ficaram, estou triste, por todos eu te amo de mentira, vindo de mim ou dele, e eu sei que nós não nós amamos, porque, por mais que ele diga que eu sei que ele me ama, eu queria deixar bem claro, NÃO eu não sei. Porque se me amasse um dia, teria feito tudo diferente e nós estariamos juntos ainda, até porque não consegui terminar em 6 meses, ia conseguir agora, que a falta dele me afetava e que eu realmente sentia saudade, e que eu realmente queria estar perto, na verdade eu estava sim, começando a me apaixonar desde uma sexta feira em questão. Mas, eu penso sem certeza que isso era porque eu estava acustumada naquela vida, e eu que jurei pra mim mesma que nunca iria me acustumar com uma situação, que não iria nunca namorar alguém que não fizesse meu coração pular e minhas pernas ficarem bambas, mas eu namorei, não sei se foi por pena, por desespero, por medo, por qualquer outra coisa que eu tenha sentido um dia. E eu não expliquei para ele que minha intenção de namorar era porque eu estava cansada de sair e nada melhor do que um namorado né, é estou aqui para deixar tudo em pratos limpos ok, cansei, não vou me fazer de vitima, também não vou culpa-lo por tudo, se eu conseguir não fazer isso. Mas eu sei que fui culpada, eu ainda amava/amo muito o outro, aquele mesmo que ele brigou quando eu exclui do orkut, ele tinha razão eu tava tentando esquece-lo, ele ainda me importava, eu estava tentando exclui-lo da minha vida pra tentar ser mais feliz com ele, eu chorei naquele dia que ele me mostrou aquela musica 'não seria justo' porque era aquilo que eu sentia mesmo, e o exalta em, sempre fazendo musicas que combinam com o que eu sinto, e eu to chorando agora, porque eu fico muito triste por ter "atrasado" a vida dele esses 6 meses e a minha também, fico triste porque antes a gente se esbarrava de vez em quando e conversava normalmente, nós não eramos ligados, eramos conhecidos, mas ele recebeu coisas de mim que ningém tinha recebido antes, não queria que esse fim fosse desse jeito, sei que tenho culpa em não ter terminado antes, mas sempre que ele me olhava perguntando se eu tinha certeza, eu não tinha! Ele me ajudou na decisão, é estranho me reerguer agora, voltar ao que eu era, só mais uma garota que ama um cara que nem sabe dizer a verdade pra ela, queria tanto que aquilo fosse de verdade, não entendo porque as pessoas insistem em dizer que amam, sem amar! Não é certo, porque não um "eu gosto muito de você"? Queria voltar no tempo, queria muito isso... Eu era tão feliz antes de conhecer o amor, mas eu vou voltar a ser, eu nunca estive tão decidida como estou nesses ultimos dias, vou me empenhar ao meu máximo para enfim esquecer o Felipe, e quando eu me relacionar com alguém de novo, ai sim, pode ter certeza vai ser com todo o meu amor. Eu mudei e eu sinto isso. E é eu precisava desbafar, dane-se o que vão achar disso! ;)
Ouvindo: Não seria justo - Exaltasamba
             Culpada - Wanessa Camargo

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Eu sei :*:


Eu sei que vou te amar
Por toda a minha vida eu vou te amar
A cada despedida eu vou te amar
Desesperadamente
Eu sei que eu vou te amar
E cada verso meu será pra te dizer
Que eu sei que vou te amar
Por toda a minha vida
Eu sei que vou chorar
A cada ausência sua eu vou chorar
Mas cada volta sua há de apagar
O que essa ausência sua me causou
Eu sei que vou sofrer
A eterna desventura de viver
A espera de viver ao lado teu
Por toda a minha vida.


E por fim, eu vou estar sozinha dessa vez, eu ser muito mais mulher, e vou tentar te esquecer de novo, apesar do que você me disse ontem, eu tentaria sinceramente, mesmo você morando em São Paulo e eu aqui, mas nem tudo é como eu quero :/ e EU TE AAAAAAAAAAAAAAAAMO TAAAAAAAAAAAANTO, e eu sei que vou te amar em cada ausência tua! :(

domingo, 24 de outubro de 2010

Faz tanto tempo que eu te perdi ♪


Faz tanto tempo
Eu te perdi

Tantos erros e loucuras em vão
Você foi embora eu fiquei aqui
Frente a frente com a solidão
Eu olho em minha volta
Quase tudo faz lembrar você
A música no rádio
As cenas da TV
Me dê mais uma chance
Nunca é tarde pra recomeçar
Minha trilha sonora tá pedindo pra você voltar
Diz que vem agora
Diz que dá uma chance pra nós dois
Traz você de volta
Deixa o passado pra depois,
Vem me dar prazer
Nosso filme vai ser, um romance eu e você
Nessa nossa história eu não imaginava te perder
Na minha memória só rolavam cenas de prazer
Agora estou tão triste implorando pra você voltar
Eu prometo nunca mais te machucar
Prometo nunca mais te machucar
Diz que vem agora
Diz que dá uma chance pra nós dois
Traz você de volta
Deixa o passado pra depois

Vem me dar prazer
Nosso filme vai ser,
um romance eu e você
Diz que vem agora
Diz que dá uma chance pra nós dois
Traz você de volta
Deixa o passado pra depois
Vem me dar prazer
Nosso filme vai ser,
Um romance, um bom lance, um romance, um lance,
um romance eu e você
Um romance eu e você
Você...

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Sem Ana, Blue - Caio F. de Abreu (EU AMO ESSE TEXTO, AHAM )


Quando Ana me deixou - essa frase ficou na minha cabeça, de dois jeitos - e depois que Ana me deixou. Sei que não é exatamente uma frase, só um começo de frase, mas foi o que ficou na minha cabeça. Eu pensava assim: quando Ana me deixou - e essa não-continuação era a única espécie de não continuação que vinha. Entre aquele quando e aquele depois, não havia nada mais na minha cabeça nem na minha vida além do espaço em branco deixado pela ausência de Ana, embora eu pudesse preenchê-lo - esse espaço branco sem Ana - de muitas formas, tantas quantas quisesse, com palavras ou ações. Ou não-palavras e não-ações, porque o silêncio e a imobilidade foram dois dos jeitos menos dolorosos que encontrei, naquele tempo, para ocupar meus dias, meu apartamento, minha cama, meus passeios, meus jantares, meus pensamentos, minhas trepadas e todas essas outras coisas que formam uma vida com ou sem alguém como Ana dentro dela.

Quando Ana me deixou, eu fiquei muito tempo parado na sala do apartamento, cerca de oito horas da noite, com o bilhete dela nas mãos. No horário de verão, pela janela aberta da sala, à luz das oito horas da noite podiam-se ainda ver uns restos dourados e vermelho deixados pelo sol atrás dos edifícios, nos lados de Pinheiros. Eu fiquei muito tempo parado no meio da sala do apartamento, o último bilhete de Ana nas mãos, olhando pela janela os dourados e o vermelho do céu. E lembro que pensei agora o telefone vai tocar, e o telefone não tocou, e depois de algum tempo em que o telefone não tocou, e podia ser Lucinha da agência ou Paulo do cineclube ou Nelson de Paris ou minha mãe do Sul, convidando para jantar, para cheirar pó, para ver Nastassia Kinski nua, pergunrando que tempo fazia ou qualquer coisa assim, então pensei agora a campainha vai tocar. Podia ser o porteiro entregando alguma dessas criancinhas meio monstros de edifício, que adoram apertar as campainhas alheias, depois sair correndo. Ou simples engano, podia ser. Mas a campainha também não tocou, e eu continuei por muito tempo sem salvação parado ali no centro da sala que começava a ficar azulada pela noite, feito o interior de um aquário, o bilhete de Ana nas mãos, sem fazer absolutamente nada além de respirar.

Depois que Ana me deixou - não naquele momento exato em que estou ali parado, porque aquele momento exato é o momento-quando, não o momento-depois, e no momento-quando não acontece nada dentro dele, somente a ausência da Ana, igual a uma bolha de sabão redonda, luminosa, suspensa no ar, bem no centro da sala do apartamento, e dentro dessa bolha é que estou parado também, suspenso também, mas não luminoso, ao contrário, opaco, fosco, sem brilho e ainda vestido com um dos ternos que uso para trabalhar, apenas o nó da gravata levemente afrouxado, porque é começo de verão e o suor que escorre pelo meu corpo começa a molhar as mãos e a dissolver a tinta das letras no bilhete de Ana - depois que Ana me deixou, como ia dizendo, dei para beber, como é de praxe.

De todos aqueles dias seguintes, só guardei três gostos na boca - de vodca, de lágrima e de café. O de vodca, sem água nem limão ou suco de laranja, vodca pura, transparente, meio viscosa, durante as noites em que chegava em casa e, sem Ana, sentava no sofá para beber no último copo de cristal que sobrara de uma briga. O gosto de lágrimas chegava nas madrugadas, quando conseguia me arrastar da sala para o quarto e me jogava na cama grande, sem Ana, cujos lençóis não troquei durante muito tempo porque ainda guardavam o cheiro dela, e então me batia e gemia arranhando as paredes com as unhas, abraçava os travesseiros como se fossem o corpo dela, e chorava e chorava e chorava até dormir sonos de pedra sem sonhos. O gosto de café sem açúcar acompanhava manhãs de ressaca e tardes na agência, entre textos de publicidade e sustos a cada vez que o telefone tocava. Porque no meio dos restos dos gostos de vodca, lágrima e café, entre as pontadas na cabeça, o nojo da boca do estômago e os olhos inchados, principalmente às sextas-feiras, pouco antes de desabarem sobre mim aqueles sábados e domingos nunca mais com Ana, vinha a certeza de que, de repente, bem normal, alguém diria telefone-para-você e do outro lado da linha aquela voz conhecida diria sinto-falta-quero-voltar. Isso nunca aconteceu.

O que começou a acontecer, no meio daquele ciclo do gosto de vodca, lágrima e café, foi mesmo o gosto de vômito na minha boca. Porque no meio daquele momento entre a vodca e a lágrima, em que me arrastava da sala para o quarto, acontecia às vezes de o pequeno corredor do apartamento parecer enorme como o de um transatlântico em plena tempestade. Entre a sala e o quarto, em plena tempestade, oscilando no interior do transatlântico, eu não conseguia evitar de parar à porta do banheiro, no pequeno corredor que parecia enorme. Eu me ajoelhava com cuidado no chão, me abraçava na privada de louça amarela com muito cuidado, com tanto cuidado como se abraçasse o corpo ainda presente de Ana, guardava prudente no bolso os óculos redondos de armação vermelhinha, enfiava devagar a ponta do dedo indicador cada vez mais fundo na garganta, até que quase toda a vodca, junto com uns restos de sanduíches que comera durante o dia, porque não conseguia engolir quase mais nada, naqueles dias, e o gosto dos muitos cigarros se derramassem misturados pela boca dentro do vaso de louça amarela que não era o corpo de Ana. Vomitava e vomitava de madrugada, abandonado no meio do deserto como um santo que Deus largou em plena penitência - e só sabia perguntar por que, por que, por que, meu Deus, me abandonaste? Nunca ouvi a resposta.

Um pouco depois desses dias que não consigo recordar direito - nem como foram, nem quantos foram, porque deles só ficou aquele gosto de vômito, misturados, no final daquela fase, ao gosto das pizzas, que costumava perdir por telefone, principalmente nos fins-de-semana, e que amanheciam abandonadas na mesa da sala aos sábados, domingos e segundas, entre cinzeiros cheios e guardanapos onde eu não conseguia decifrar as frases que escrevera na noite anterior, e provavelmente diziam banalidades, como volta-para-mim-Ana ou eu-não-consigo-viver-sem-você, palavras meio derretidas pelas manchas do vinho, pela gordura das pizzas -, depois daqueles dias começou o tempo em que eu queria matar Ana dentro de tudo aquilo que era eu, e que incluía aquela cama, aquele quarto, aquela sala, aquela mesa, aquele apartamento, aquela vida que tinha se tornado a minha depois que Ana me deixou.

Mandei para a lavanderia os lençóis verde-clarinhos que ainda guardavam o cheiro de Ana - e seria cruel demais para mim lembrar agora que cheiro era esse, aquele, bem na curva onde o pescoço se transforma em ombro, um lugar onde o cheiro de nenhuma pessoa é igual ao cheiro de outra pessoa -, mudei os móveis de lugar, comprei um Kutka e um Gregório, um forno microondas, fitas de vídeo, duas dúzias de copos de cristal, e comecei a trazer outras mulheres para casa. Mulheres que não eram Ana, mulheres que jamais poderiam ser Ana, mulheres que não tinham nem teriam nada a ver com Ana. Se Ana tinha os seios pequenos e duros, eu as escolhia pelos seios grandes e moles, se Ana tinha os cabelos quase louros, eu as trazia de cabelos pretos, se Ana tivesse a voz rouca eu a selecionava pelas vozes estridentes que gemiam coisas vulgares quando estávamos trepando, bem diversas das que Ana dizia ou não dizia, ela nunca dizia nada além de amor-amor ou meu-menino-querido, passando dos dedos da mão direita na minha nuca e os dedos da mão esquerda pelas minhas costas. Vieram Gina, a das calcinhas pretas, e Lilian, a dos olhos verdes frios, e Beth, das coxas grossas e pés gelados, e Marilene, que fumava demais e tinha um filho, e Mariko, a nissei que queria ser loura, e também Marta, Luiza, Creuza, Júlia, Débora, Vivian, Paula, Teresa, Luciana, Solange, Maristela, Adriana, Vera, Silvia, Neusa, Denise, Karina, Cristina, Marcia, Nadir, Aline e mais de 15 Marias, e uma por uma das garotas ousadas da Rua Augusta, com suas botinhas brancas e minissaia de couro, e destas moças que anunciam especialidades nos jornais. Eu acho que já vim aqui uma vez, alguma dizia, e eu falava não lembro, pode ser, esperando que tirasse a roupa enquanto eu bebia um pouco mais para depois tentar entrar nela, mas meu pau quase nunca obedecia, então eu afundava a cabeça nos seus peitos e choramingava babando sabe, depois que Ana me deixou eu nunca mais, e mesmo quando meu pau finalmente endurecia, depois que eu conseguia gozar seco ardido dentro dela, me enxugar com alguma toalha e expulsá-la com um cheque cinco estrelas, sem cruzar ¿ então eu me jogava de bruços na cama e pedia perdão à Ana por traí-la assim, com aquelas vagabundas. Trair Ana, que me abandonara, doía mais que ela ter me abandonado, sem se importar que eu naufragasse toda noite no enorme corredor de transatlântico daquele apartamento em plena tempestade, sem salva-vidas.

Depois que Ana me deixou, muitos meses depois, veio o ciclo das anunciações, do I Ching, dos búzios, cartas de Tarot, pêndulos, vidências, números e axés ¿ ela volta, garantiam, mas ela não voltava - e veio então o ciclo das terapias de grupo, dos psicodramas, dos sonhos junguianos, workshops transacionais, e veio ainda o ciclo da humildade, com promessas à Santo Antônio, velas de sete dias, novenas de Santa Rita, donativos para as pobres criancinhas e velhinhos desamparados, e veio depois o ciclo do novo corte de cabelos, da outra armação para os óculos, guarda-roupa mais jovem, Zoomp, Mister Wonderful, musculação, alongamento, yoga, natação, tai-chi, halteres, cooper, e fui ficando tão bonito e renovado e superado e liberado e esquecido dos tempos em que Ana ainda não tinha me deixado que permiti, então, que viesse também o ciclo dos fins de semana em Búzios, Guarajá ou Monte Verde e de repente quem sabe Carla, mulher de Vicente, tão compreensiva e madura, inesperadamente, Mariana, irmã de Vicente, transponível e natural em seu fio dental metálico, por que não, afinal, o próprio Vicente, tão solícito na maneira como colocava pedras de gelo no meu escocês ou batia outra generosa carreira sobre a pedra de ágata, encostando levemente sua musculosa coxa queimada de sol e o windsurf na minha musculosa coxa também queimada de sol e windsurf. Passou-se tanto tempo depois que Ana me deixou, e eu sobrevivi, que o mundo foi se tornando ao poucos um enorme leque escancarado de mil possibilidades além de Ana. Ah esse mundo de agora, assim tão cheio de mulheres e homens lindos e sedutores interessantes e interessados em mim, que aprendi o jeito de também ser lindo, depois de todos os exercícios para esquecer Ana, e também posso ser sedutor com aquele charme todo especial de homem-quase-maduro-que-já-foi-marcado-por-um-grande-amor-perdido, embora tenha a delicadeza de jamais tocar no assunto. Porque nunca contei à ninguém de Ana. Nunca ninguém soube de Ana em minha vida. Nunca dividi Ana com ninguém. Nunca ninguém jamais soube de tudo isso ou aquilo que aconteceu quando e depois que Ana me deixou.

Por todas essas coisas, talvez, é que nestas noites de hoje, tanto tempo depois, quando chego do trabalho por volta das oito horas da noite e, no horário de verão, pela janela da sala do apartamento ainda é possível ver restos de dourados e vermelhos por trás dos edifícios de Pinheiros, enquanto recolho os inúmeros recados, convites e propostas da secretária eletrônica, sempre tenho a estranha sensação, embora tudo tenha mudado e eu esteja muito bem agora, de que este dia ainda continua o mesmo, como um relógio enguiçado preso no mesmo momento - aquele. Como se quando Ana me deixou não houvesse depois, e eu permanecesse até hoje aqui parado no meio da sala do apartamento que era o nosso, com o último bilhete dela nas mãos. A gravata levemente afrouxada no pescoço, fazia e faz tanto calor que sinto o suor escorrer pelo corpo todo, descer pelo peito, pelos braços, até chegar aos pulsos e escorregar pela palma das mãos que seguram o último bilhete de Ana, dissolvendo a tinta das letras com que ela compôs palavras que se apagam aos poucos, lavadas pelo suor, mas que não consigo esquecer, por mais que o tempo passe e eu, de qualquer jeito e sem Ana, vá em frente. Palavras que dizem coisas duras, secas, simples, arrevogáveis. Que Ana me deixou, que não vai voltar nunca, que é inútil tentar encontrá-la, e finalmente, por mais que eu me debata, que isso é para sempre. Para sempre então, agora, me sinto uma bolha opaca de sabão, suspensa ali no centro da sala do apartamento, à espera de que entre um vento súbito pela janela aberta para levá-la dali, essa bolha estúpida, ou que alguém espete nela um alfinete, para que de repente estoure nesse ar azulado que mais parece o interior de um aquário, e desapareça sem deixar marcas.

Vai Passar - Caio Fernando de Abreu

Vai passar, tu sabes que vai passar. Talvez não amanhã, mas dentro de uma semana, um mês ou dois, quem sabe? O verão está ai, haverá sol quase todos os dias, e sempre resta essa coisa chamada "impulso vital". Pois esse impulso às vezes cruel, porque não permite que nenhuma dor insista por muito tempo, te empurrará quem sabe para o sol, para o mar, para uma nova estrada qualquer e, de repente, no meio de uma frase ou de um movimento te supreenderás pensando algo como "estou contente outra vez". Ou simplesmente "continuo", porque já não temos mais idade para, dramaticamente, usarmos palavras grandiloqüentes como "sempre" ou "nunca". Ninguém sabe como, mas aos poucos fomos aprendendo sobre a continuidade da vida, das pessoas e das coisas. Já não tentamos o suicidio nem cometemos gestos tresloucados. Alguns, sim - nós, não. Contidamente, continuamos. E substituimos expressões fatais como "não resistirei" por outras mais mansas, como "sei que vai passar". Esse o nosso jeito de continuar, o mais eficiente e também o mais cômodo, porque não implica em decisões, apenas em paciência.
Claro que no começo não terás sono ou dormirás demais. Fumarás muito, também, e talvez até mesmo te permitas tomar alguns desses comprimidos para disfarçar a dor. Claro que no começo, pouco depois de acordar, olhando à tua volta a paisagem de todo dia, sentirás atravessada não sabes se na garganta ou no peito ou na mente - e não importa - essa coisa que chamarás com cuidado, de "uma ausência". E haverá momentos em que esse osso duro se transformará numa espécie de coroa de arame farpado sobre tua cabeça, em garras, ratoeira e tenazes no teu coração. Atravessarás o dia fazendo coisas como tirar a poeira de livros antigos e velhos discos, como se não houvesse nada mais importante a fazer. E caminharás devagar pela casa, molhando as plantas e abrindo janelas para que sopre esse vento que deve levar embora memórias e cansaços.
Contarás nos dedos os dias que faltam para que termine o ano, não são muitos, pensarás com alívio. E morbidamente talvez enumeres todas as vezes que a loucura, a morte, a fome, a doença, a violência e o desespero roçaram teus ombros e os de teus amigos. Serão tantas que desistirás de contar. Então fingirás - aplicadamente, fingirás acreditar que no próximo ano tudo será diferente, que as coisas sempre se renovam. Embora saibas que há perdas realmente irreparáveis e que um braço amputado jamais se reconstituirá sozinho. Achando graça, pensarás com inveja na largatixa, regenerando sua própria cauda cortada. Mas no espelho cru, os teus olhos já não acham graça.
Tão longe ficou o tempo, esse, e pensarás, no tempo, naquele, e sentirás uma vontade absurda de tomar atitudes como voltar para a casa de teus avós ou teus pais ou tomar um trem para um lugar desconhecido ou telefonar para um número qualquer (e contar, contar, contar) ou escrever uma carta tão desesperada que alguém se compadeça de ti e corra a te socorrer com chás e bolos, ajeitando as cobertas à tua volta e limpando o suor frio de tua testa.
Já não é tempo de desesperos. Refreias quase seguro as vontades impossíveis. Depois repetes, muitas vezes, como quem masca, ruminas uma frase escrita faz algum tempo. Qualquer coisa assim:
- ... mastiga a ameixa frouxa. Mastiga , mastiga, mastiga: inventa o gosto insípido na boca seca ...

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

nossas alegrias violentas, meu fim violento.



E estas alegrias violentas tem fins violentos 
Falecendo num triunfo, como fogo e pólvora 
Que num beijo se consomem
(Romeu e Julieta, Ato II, Cena VI)

Ao contrário das histórias que acabam e recomeçam, a minha parou aqui. Nenhuma lágrima a mais para derramar. A dor agora é só um eco dentro de mim, se repetindo até ficar inaudível no buraco que há em meu peito.

Foi difícil perceber o quanto tudo o que aconteceu me deixou fraca; vazia. Pensei que passaria o resto da minha vida idiota chorando porele; mas não. Eu acordei, o céu estava claro e eu podia ouvir meu coração batendo. Apertado demais em meu peito. Era insuportável.

Eu nunca mais vou ser inteira. Essa história não é como as que eu li, ouvi e assisti. Ela é peculiar, é minha. Não tem final feliz. Só dor.

Mas eu sobrevivi. E não posso parar de respirar por isso, por mais que eu quisesse.


Nossa história não tem nenhum triunfo, porque na verdade, ela só é minha. Ele não se importa.

A pior parte é que acabou; não tem volta. Eu posso usar milhares de frases para me fazer entender que eu não tenho mais saída a não ser viver sem eleMeu coração não devia bater.

Não há outro beijo para consumir o fogo e a pólvora; eles não existem. Só existiam em mim. Os lábios dele nunca mais vão tocar os meus.

Você vai sobreviver – minha razão disse. Mas até ela está afetada pela dor. Eu sei que vou sobreviver, mas o ar não vai fazer efeito em meus pulmões. Meu coração bombeia o sangue como se fosse explodir a qualquer momento.

Dor, - eu disse devagar, tentando não sentir a intensidade dela. – você me venceu.

Mas eu não entreguei o jogo. Eu tenho me esforçado para viver o melhor que posso. Mas eu não sou assim.
Esse não é o tipo de dor que passa com o tempo; eu é que vou suportando viver com ela. É aquela dor que sempre vai latejar e se espalhar dentro de mim. A dor que nunca vai me deixar esquecer o pouco tempo da minha vida em que eu era completa.






tirei daqui http://inconscienciadovazio.blogspot.com/2009/09/nossas-alegrias-violentas-meu-fim.html *-*
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